Neste 21 de junho, há 10 anos, perdemos a nossa mais autêntica e expressiva liderança e o Brasil ficou privado da sua maior referência política.
Por oportuno, destacamos trechos do discurso proferido pelo nosso valoroso companheiro e competente Senador Cristovam Buarque, lamentando a ausência do grande líder no cenário político brasileiro: “Medimos os grandes políticos pela presença deles no cenário nacional quando estão vivos, mas medimos a importância dos maiores de todos pela ausência deles”.
E Brizola foi um político de presença firme ao longo de todas as décadas de sua atividade política. Ele nunca esteve discreto na vida pública brasileira. Sempre teve um lado claro, firme, em defesa da Nação brasileira, em defesa dos trabalhadores brasileiros.
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Brizola faz falta nesse mundo em que, aparentemente, não há bandeiras claras, nítidas. Ele carregava em si uma bandeira. Ele falava com uma posição, com um lado, com uma nitidez de princípios e de propostas, sem esse furta-cor que hoje caracteriza as bandeiras dos partidos no Brasil. Brizola faz falta na soberania nacional, na nitidez de posições que digam: existe um lado, e existe outro lado, não esse meio-de-campo em que todo mundo hoje está se misturando.
Brizola faz muita falta, sim, porque era a voz, respeitada nacionalmente, capaz de colocar no cenário nacional a prioridade radical pela educação. É diferente o discurso que põe essa bandeira na boca de outros ou na boca do grande Leonel Brizola, até porque ele fez esse discurso há mais de cinquenta anos.Hoje, no momento em que o grande capital é o conhecimento, no momento em que a base do progresso é a educação, a fala de Brizola estaria incendiando este País por uma revolução.
Brizola está fazendo falta, porque ele criou, há muito tempo, a verdadeira escola, que era o Centro Integrado de Educação Pública (CIEP): a escola de horário integral. Mas ele falou tão na frente, tão adiantado, que não conseguiu levar isso para o Brasil inteiro.
Brizola faz falta por que seria capaz de conduzir o Brasil nessa revolução educacional que defendia em um tempo, antes de ser essa a verdadeira razão da revolução. O grande Brizola faz falta no momento em que as leis trabalhistas exigem alguns ajustes, mas não podem ser ajustes contra os interesses dos trabalhadores.
Ele faz falta por que a voz dele seria a melhor para dizer que aqui estão as mudanças que podemos fazer, aqui está o limite além do qual a gente não vai, aqui está a maneira de mudar as leis, melhorando-as, não prejudicando os trabalhadores. Ele está fazendo falta, nesse momento, porque a voz dele daria uma força, uma credibilidade que nenhum de nós, políticos ainda vivos, temos.
Brizola tinha os princípios, a história dos princípios, a palavra dos princípios. Por isso, faz falta.
Brizola faz uma profunda falta também neste momento do vazio ideológico que vive a política no Brasil, porque ele nunca foi contaminado por uma ou outra ideologia. Ele construiu sua ideologia. Ele foi capaz de não cair nos “ismos” e criar o Trabalhismo junto com Getúlio, com Jango, com Pasqualini e com outros, mas a linha dele não seria afetada pelo debacle que a gente viu da maneira como o socialismo era feito.
Hoje, lembramos a todos que houve um político que foi grande quando vivo e que ficou ainda maior quando a gente sente sua ausência. Viva Brizola, pelo seu tamanho em vida e pelo sentimento de ausência que ele nos passa!”
O jornalista Petronio Souza, tão logo soube da morte de Brizola, assim definiu o grande líder:
“Foi gênio e genial, homem raro, daqueles que nasceu lá para as bandas dos pampas do olhar reto, direto; engenheiro por formação, queria reconstruir o país, e estruturado em valores solidificados na pedra preciosa do nacionalismo autêntico. Não enxergava limites nem divisas, para ele a Nação era o todo, sem barreiras no amor incorporado. Agora, ficamos nós com o coração vazio. Muitos não concordavam, mas ouviam. Por autoridade nacional, ele repetia, repercutia. Agora, fica faltando um bravo no céu anil do Brasil. Fica faltando as sábias palavras do grande pai nacional que, sempre, para o bem geral da Nação, ponderava. Fica faltando Leonel Brizola, o homem que fez desabrochar uma Rosa Vermelha brasileira, dentro do peito dos verdadeiros filhos da Pátria”.
Registramos a nossa profunda saudade, principalmente, neste momento, em que a corrupção, o nepotismo e a falta de ética corroem os poderes republicanos, sem que uma voz que tenha a sua credibilidade e a sua autoridade, levante-se na defesa do povo humilhado.
Para nós seus amigos e seus companheiros e para mim em particular que em 1957, aos 19 anos passei a integrar a sua equipe na Prefeitura de Porto Alegre, Brizola vive, através do legado das suas idéias, da sua coerência e da sua coragem e determinação na luta da defesa dos interesses e dos anseios do povo brasileiro e, cabe a nós, os seus seguidores trabalhistas autênticos, dar continuidade aos seus projetos e as suas propostas consubstanciadas na Missão que ele legou ao PDT:
“Nós temos a nossa responsabilidade com a história. Nosso partido é o único com determinação de assumir as grandes causas nacionais. Nenhum partido é tão nacionalista quanto o nosso. Queremos um país desenvolvido, autônomo, independente. Nós somos a emanação das lutas sociais. O Trabalhismo nasceu da Revolução de 30, de uma inspiração do Presidente Getúlio Vargas, que foi evoluindo de acordo com o processo social, empenhado em garantir direitos à massa dos deserdados. Nós somos as verdadeiras reformas, a mudança, o voto rebelde. O PDT é um partido derramadamente democrático. Somos a expressão brasileira do socialismo democrático e tomamos a feição social democrata, pois é preciso chegar a um certo nível de igualitarismo para termos desenvolvimento. Nós temos genética, somos uma grande sementeira de idéias em beneficio do povo brasileiro. Temos que estar sempre onde está o povo. Existimos para dar voz aos que não tem voz. Nossa ancoragem é a área deserdada da população. Nosso guia é o interesse público e o bem comum”.