terça-feira, 27 de março de 2012


Papa reforça papel mediador da igreja na abertura política de Cuba

Atualizado em  26 de março, 2012 - 16:57 (Brasília) 19:57 GMT
Bento 16 | Foto: AP
Em viagem à América Latina, papa Bento 16 passou pelo México e embarca agora rumo a Cuba
Dias após fazer críticas indiretas ao regime cubano no México, o papa Bento 16 desembarcou em Cuba, nesta segunda-feira, em sua primeira viagem oficial ao país. Para analistas, a principal missão do pontífice é fortalecer o papel da Igreja Católica como mediadora junto ao governo nas negociações para a libertação de presos políticos.
Embora o regime de Cuba seja declaradamente ateu, a política atual da igreja cubana é de aproximação com o governo de Raúl Castro, irmão e sucessor de Fidel Castro.
A aproximação é um novo capítulo nas relações entre Cuba e a Santa Sé, que já passou por altos e baixos. Nos anos 1960, a tensão chegou ao ponto de o líder cubano Fidel Castro ser excomungado pelo papa João 23.
Para Enrique López Oliva, professor de religião da Universidade de Havana, a visita de Bento 16 ao país tem um caráter muito definido.
Segundo ele, o papa "vem em primeiro lugar dar respaldo à política do Cardeal Jaime Ortega" de aproximação com o governo.
A excomunhão, no entanto, não impediu que o papa João Paulo 2º visitasse o país em 1998 e que Bento 16 agora repita a viagem, 14 anos depois.
Nos últimos anos, a colaboração entre a Igreja e o Estado cubano passam por temas delicados como a libertação de presos políticos e comuns. Em dezembro de 2011, Cuba libertou quase 3 mil prisioneiros como "gesto de boa vontade", após receber pedidos de parentes e instituições religiosas.
Meses antes, em julho, o governo libertou 52 dissidentes que estavam presos desde 2003, após um acordo com líderes católicos.

Igreja ganha espaço

João Paulo 2º | Foto: AP
Presidente cubano Fidel Castro recebe o papa João Paulo 2º em Cuba, ainda em 1998
López Oliva afirma que "o setor da Igreja mais envolvido nas negociações domina o Episcopado Católico. Houve uma renovação com gente jovem, gente que talvez não tenha sofrido ou não tenha participado no conflito igreja-Estado nas décadas de 1960 ou 1970".
Segundo o professor, a igreja quer um maior acesso à educação e aos meios de comunicação. A instituição "já possui a única revista independente de crítica política de Cuba, a Espacio Laical, na qual escrevem acadêmicos, críticos e pessoas da Igreja".
Além disso, "o seminário de São Carlos e São Ambrósio se transformou no Centro de Diálogo Félix Varela de Cultura, onde figuras da revolução, vozes da igreja e até alguns opositores (do regime) se reúnem para debater problemas nacionais", de acordo com Oliva.
Ele acredita que estes espaços são importantes para o clero, por causa da perda de fiéis expressiva que a Igreja Católica sofreu em Cuba.
"Você vai em um domingo e as igrejas católicas estão semi-vazias ou vazias, enquanto os templos pentecostais têm tanta gente que não cabe dentro", diz.
O bispo Juan de Dios Hernandez confirma que a Igreja Católica cubana aspira "a um espaço nos meios de comunicação mais sistemático" e a "uma possibilidade no âmbito educativo", ou seja, voltar a ter escolas católicas como antes de 1959.
"Todo o espaço que a igreja consegue com este diálogo (com o governo) é um espaço também para o povo, a partir da fé. Não teria sido possível a saída dos presos (políticos) sem esse diálogo e também não teria sido possível o indulto de mais de 2 mil presos (comuns)", diz Hernandez.
O bispo participou de encontros com o Raúl Castro e o descreveu como "uma pessoa muito direta, de agenda e pontos concretos, que não dá voltas e tem um conceito operativo da vida".
"(Ele) trata de que as coisas aconteçam e não fiquem somente no discurso", afirma.

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